segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ajê Xalugá

I

Ajê Xalugá cega os homens e também perde a visão

Ajê Xalugá é a irmã mais nova de Iyemoja.

Ambas são as filhas prediletas de Olokun.

Quando a imensidão das águas foi criada, Olokun dividiu os mares com suas filhas e cada uma reinou numa iferente região do oceano.

Ajê Xalugá ganhou o poder sobre as marés.

Eram nova as filhas de Olokun e por isso se diz que são nove as Iyemoja.

Dizem que Iyemoja é a mais velha Olokun e que Ajê Xalugá é a Olokun caçula, mas de fato ambas são irmãs apenas.

Olokun deu às suas filhas os mares e também todo o segredo que há neles.

Mas nenhuma delas conhece os segredos todos, que são os segredos de Olokun.

Ajê Xalugá era, porém, menina muito curiosa e sempre ia bisbilhotar em todos os mares.

Quando Olokun saía para o mundo, Ajê Xalugá fazia subir a maré e ia atrás cavalgando sobre as ondas.

Ia disfarçada sobre as ondas, na forma de espuma borbulhante.

Tão intenso e atractivo era tal brilho que às vezes cegava as pessoas que olhavam.

Um dia Olokun disse à sua filha caçula:

"O que dás para os outros tu também terás, serás vista pelos outros como te mostrares.

Este será o teu segredo, mas sabe que qualquer segredo é sempre perigoso".

Na próxima vez que Ajê Xalugá saiu nas ondas, acompanhando, disfarçada, as andanças de Olokun,

Seu brilho era ainda bem maior, porque maior era seu orgulho, agora detentora do segredo.

Muitos homens e mulheres olhavam admirados o brilho intenso das ondas do mar e cada um com o brilho ficou cego.

Sim, o seu poder cegava os homens e as mulheres.

Mas quando Ajê Xalugá também perdeu a visão, ela entendeu o sentido do segredo.

Iyemoja está sempre com ela, Quando sai para passear nas ondas.

Ela é a irmã mais nova de Iyemoja.

Itòn extraída de "Mitologia dos Orixás", de Reginaldo Prandi.

II

Quando se encontrava no céu perto de Mawu, o caramujo Aje se chamava Aina e era do sexo feminino.

Naquela época, Fa Ayedogun passava por sérias dificuldades financeiras e, por ser muito pobre, não era convidado a participar de qualquer festa ou reunião social.

Aina, recém nascida, era muito feia. Sua aparência terrível fazia com que todos evitassem sua companhia e ninguém aceitava tê-la em casa.

Depois de ser rejeitada em todas as casas, Aina bateu na porta de Fa Ayidogun, que apesar do estado de miséria em que se encontrava, acolheu a menina.

Uma bela noite, Aina acordou Fa, anunciando que estava prestes a vomitar. O hospedeiro apresentou-lhe uma tigela para que vomitasse, mas ela recusou-se. Uma cabaça foi trazida e também recusada e depois, uma jarra foi objecto de nova recusa.

Fá perguntou então, o que poderia fazer para ajudá-la e Aina disse: "Lá no lugar de onde venho, costuma-se vomitar todos os dias, no quarto. Conduzida ao quarto, Aina começou a vomitar todos os tipos de pedras preciosas, brancas, azuis, vermelhas, verdes, etc.

Naquele momento, um marabu que passava, penetrou na casa de Fá e perguntou por Aina.

"Ela está no quarto, acometida por uma crise de vômitos." Respondeu Fá.

O estrangeiro foi ver o que se passava e ao deparar com Aina vomitando pedras preciosas, exclamou: "Ha! Nós não conhecíamos os poderes de Aina, hoje revelados!" Disposto a serví-la, colocou-lhe o nome de Anabi ou Ainayi, que em Yoruba quer dizer: Aina vomita, Aina deu toda riqueza a Fá Ayidogun. Os muçulmanos, depois disto, fizeram de Aina uma divindade, conhecida entre eles, como Anabi.

(Este itan descreve a lenda do surgimento do Orishá Aje Shaluga).

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