Okê - (Okô)
I
Orixá Okê surge do fundo do mar
No princípio, Olokun reinava só no mundo.
Olofin fez o mundo de água e Olokun o governava.
No princípio, tudo era o mar, tudo era Olokun.
E Olofin andava entediado com a vastidão sem fim das águas.
Foi então que Oraniã, com a força que lhe dera Olofin, fez surgir do fundo do oceano o primeiro monte de terra, a primeira colina sobre as águas, a montanha Okê.
Okê, que quer dizer montanha na língua dos antigos, surgiu das profundezas dos mares para o prazer de Olofin e desde então, além das águas, passou a existir a terra de Okê.
Assim nasce Okê, o orixá do monte, e sobre o monte a vida do homem é possível, porque antes estava tudo submerso e todo o poder era do mar, de Olokun.
Logo depois, tendo o homem já se espalhado na Terra, Olofin-Olodunmare reuniu os demais orixás em cima de Okê e indicou a cada um onde seria seu domínio nesse mundo novo.
Os orixás tornaram-se então muito poderosos, mas muitos daqueles que vieram depois dos orixás se esqueceram de Okê.
Sem Okê nenhum dos orixás teria podido fazer nada e é por isso que sempre se deve fazer oferendas a ele.
O que aconteceria se Okê voltasse para o fundo das águas e deixasse Olokun dominando o mundo sozinho(a)?
Itòn extraída do livro "Mitologia dos Òrìsàs", autor Reginaldo Prandi.
II
ORIXÀ OKO
Quando o mundo foi criado, ainda não existia nada plantado. Aqui morava um homem que nada fazia. Este homem se chamava Oko, o nome que ele tinha recebido do grande criador. Um dia, Olorum chamou este velho e lhe disse:
- Olha, eu criei o mundo, porém, faltam as plantações, e eu não sei com fazê-las, como plantar. Você vai ser incumbido desta tarefa.
Oko ficou sentado no chão, pensando:
Que grande incumbência Olorum me deu! O que eu vou fazer? Pensou, pensou, e aí se lembrou de que nas suas andanças pelas estradas tinha encontrado uma palmeira, e que embaixo dessa palmeira sempre tinha uns molequinho. Esse moleque era muito sapeca e muito sagaz, com um corpo bem reluzente. Ele estava sempre com um pedaço de pau mexendo na terra. Oko se lembrou de que um dia ele perguntou a esse rapazinho:
- Que estás a fazer?
E o rapaz lhe respondeu:
Você não sabe que a terra mexida e plantada dá frutos?
Plantada como? – perguntou Oko.
- É... A gente arruma semente, e tudo isso...
- Como arruma semente, se ainda não existe arvore, não existe nada? – interrompeu Oko. O molequinho lhe disse:
- Olhe que prá Olorum nada é difícil!
Oko ficou admirado com as palavras daqueles molequinho. Quando Olorum lhe deu essa empreitada, ele logo se lembrou de molequinho.
Voltou ao mesmo lugar e encontrou o molequinho sentado embaixo da palmeira, cavando terra. O buraco já estava maior, e daquele buraco já estava saindo uma terra mais avermelhada. Oko perguntou ao menino:
- Porque esta terra está saindo mais vermelha?
- É sinal de que algo de diferente existe nas profundezas da terra. Você vê que eu estou cavando e aqui em cima a terra é mais seca; agora, esta outra parte, é mais molhada, e agora já está saindo uma parte mais densa, mais dura – respondeu o menino, mostrando a terra a Oko.
- Continue a cavar – falou Oku.
Mas enquanto o menino estava cavando, a madeirazinha que ele estava usando quebrou. Ele aí pelejou, esfregou no chão, e fez uma ponta na madeira. O menino estava descobrindo naquele momento uma ferramenta na hora em que ele raspou a madeira no chão. E com ela ele recomeçou a cavar juntos e tiraram uma lasca dessa terra, que era a pedra. Oko disse:
- Vamos fazer algo para a gente cavar a terra. Vamos ver se conseguimos qualquer coisa com aquela lasca de pedra.
O molequinho continuou a trabalhar e Oko lhe disse:
- Eu vou me embora, você veja se sozinho consegue pensar em algo mais útil para nós trabalharmos.
E foi embora, foi embora, foi embora. Foi andando e matutando pelo caminho.
No outro dia quando Oko voltou, o molequinho estava com o fogo aceso e com vários pedaços daquela pedra de fogo. Quando o moleque fez aquele fogo, ele fez também um canal saindo de dentro do fogo. No que as tais pedras iam de derretendo iam escorrendo e o menino ia formando lâminas. Assim foi criado o ferro. E sabe quem era esse molequinho? Era Ogum, o criador do ferro. Daí em diante, Orixá Oko, o grande rezador e plantador, com suas idéias sobre plantação, colheita e lavoura , e Ogum, com as suas ferramentas para ajudar a cavar a terra, o arado, o machado, a foice e a enxada, continuaram a trabalhar juntos nas plantações que têm grande importância na criação do mundo.
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