Oxaguiãn
I
Um dos mitos diz que Oxaguian nasceu apenas de Obatalá. Não teve mãe. Nasceu dentro de uma concha de caramujo. E quando nasceu, não tinha cabeça, por isso deambulava pelo mundo, sem sentido.
Um dia encontrou Ori numa estrada e este lhe deu uma cabeça feita de inhame pilado, branca. Apesar de feliz com sua cabeça, ela esquentava muito, e quando esquentava Oxaguian criava mais conflitos. E sofria muito. Foi quando um dia encontrou Iku (a Morte), que lhe ofereceu uma cabeça fria. Apesar do medo que sentia, o calor era insuportável, e ele acabou aceitando a cabeça preta que a morte lhe deu. Mas essa cabeça era dolorida e fria demais. Oxaguian ficou triste, porque a morte, com sua frieza, estava o tempo todo acompanhando o Orixá. Foi então que Ogun apareceu e deu sua espada para Oxaguian, que espantou Iku. Ogun também tentou arrancar a cabeça preta de cima da cabeça de inhame, mas tanto apertou que as duas se fundiram e Oxaguian ficou com a cabeça azul, agora equilibrada e sem problemas.
A partir deste dia, ele e Ogun andam juntos transformando o mundo. Oxaguian depositando o conflito de ideias e valores que mudam o mundo e Ogun fornecendo os meios para a transformação, seja a tecnologia ou a guerra.
II
"Oxaguian nasceu em Ifé, e era filho de Oxalufã. Ele nasceu bem antes de seu pai tornar-se o rei de Ifan.
Oxaguian, que era um guerreiro muito valente, decidiu conquistaria a qualquer custo, e partiu para a empreitada, acompanhado de seu amigo Awoledjê.
Mas nesta época, Oxaguian ainda não possuía este nome.
Após chegar num pequeno lugar chamado Ejigbô, tornou-se Elejigbô (Rei de Ejigbô).
A comida predileta de Oxaguian sempre foi o inhame pilado, tanto que chegou ao ponto de inventar o pilão, para que seu prato predilecto pudesse ser preparado.
Ele comia o inhame pilado que os yorubás chamam de iyan, o tempo todo – pela manhã, ao meio-dia, depois da sesta, no jantar e mesmo durante a noite, se sentisse vazio seu estômago, e recusava qualquer outra comida. Tal predilecção impressionou os outros orixás, ao ponto destes lhe darem o cognome Oxaguian: orixá comedor de inhame pilado, como passou então a ser chamado.
Seu companheiro de empreitada, Awoledjê, era um babalaô, grande adivinho, que sempre o aconselhava no que devia ou não fazer. Certa feita, ele aconselhou Oxaguian a preparar uma oferenda que contivesse: dois ratos de tamanho médio; dois peixes; que nadassem majestosamente; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de caramujos e muitos pano brancos. Awoledjê afirmou-lhe, ainda, que se Elejigbô seguisse seus conselhos, Ejigbô, que era um pequeno lugarejo dentro da floresta, tornar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa, e povoada de muitos habitantes.
Awoledjê, então partiu em viagem a outros lugares.
E Elejigbô fez o que o amigo sugerira e a pequena Ejigbô tornou-se uma grande cidade, como fora previsto por Awoledjê. Rodeada de muralhas, com fossos profundos, tinha as portas fortificada e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas. Também passou a possuir um grande mercado, enfrente ao palácio, que atraía, de longe, compradores e vendedores de mercadorias e escravos. E Elejigbô passou a viver com grande pompa, entre suas mulheres. Então a se referir a ele, não mais usava seu nome, pois tal seria tido como uma grande falta de respeito. Passou-se a usar a expressão Kabiyesi – Sua Majestade, ao se referir a ele.
Passaram-se alguns anos, e Awoledjê voltou e, desconhecendo completamente a actual posição de seu velho amigo, perguntou aos guardas, ainda na entrada do palácio, e com bastante intimidade, notícias do "Comedor-de-inhame-pilado". Os guardas se chocaram com o desrespeito do forasteiro, esbravejaram contra sua impertinência com Kabiyesi, e o espancaram. Depois jogaram-no na cadeia.
Awoledjê, quase morto e extremamente revoltado com o tratamento recebido, decidiu-se vingar-se, utilizando-se da magia. E durante os sete anos seguintes a chuva não caiu sobre o reino de Ejigbô, as mulheres ficaram estéreis e os pastos secaram. Elejigbô, desesperado, foi consultar um babalaô em busca de solução. Como resposta, ouviu: "Kabiyesi, toda esta infelicidade é consequência da injusta prisão de um de seus confrades! É preciso soltá-lo, Kabieysi, e obter o seu perdão!"
Assim, Awoledjê foi finalmente solto, mas cheio de ressentimento, refugiou-se na mata. E Elejigbô teve que ir suplicar-lhe que o perdoasse e esquecesse os maus tratos sofridos.
"Muito bem! – responde-lhe. Eu permito que a chuva caia de novo, Oxaguian, mas tem uma condição: A cada ano, por ocasião de sua festa, será necessário que você envie muita gente à floresta, para cortar trezentos feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos, deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas ou quebrem-se".
E assim foi feito, e até hoje se repete: todos os anos, no fim da seca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se durante todo o dia, em sinal de contrição e na esperança de verem , novamente a chuva cair".
– Trecho tirado da Revista dos Orixás – Editora Provenzano – volume 5 – ano 2.000
III
Oxalufã tinha um filho chamado Oxaguiã ( forma jovem de Oxalá ), muito valente e guerreiro, Que almejava ter um reino a todo custo. Era um período de guerras entre dois reinos vizinhos e seus habitantes perguntavam sempre aos babalaôs o que fazer para que a paz voltasse a reinar. Um dos sacerdotes respondeu que eles deveriam oferecer ao orixá da paz, que se vestia de branco, como uma pomba, muito inhame pilado, comida de sua preferência.
Oxaguiã, cujo nome significa "comedor de inhame pilado", apreciava tanto essa comida que ele próprio inventou o pilão para fazê-la. Depois que as oferendas foram entregues, tudo voltou as boas. Oxaguiã tornou-se conhecido por todos e conseguiu seu próprio reino. Até hoje são oferecidas grandes festas a esse Orixá para que haja fartura o ano todo
IV
Osaguiã estava em guerra, mas a guerra não acabava nunca, tão poucas eram as armas para guerrear.
Ògún fazia as armas, mas fazia lentamente.
Osaguiã pediu a seu amigo Ògún urgência, Mas o ferreiro já fazia o possível.
O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova tardava como o tempo.
Tanto reclamou Osaguiã que Oyá, esposa do ferreiro, resolveu ajudar Ògún a apressar a fabricação.
Oyá se pôs a soprar o fogo da forja de Ògún e seu sopro avivava intensamente o fogo e o fogo aumentado de calor derretia o ferro mais rapidamente.
Logo Ògún pode fazer muitas armas e com as armas Osaguiã venceu a guerra.
Osaguiã veio então agradecer Ògún. E na casa de Ògún enamorou-se de Oyá.
Um dia fugiram Osaguiã e Oyá, deixando Ògún enfurecido e sua forja fria.
Quando mais tarde Osaguiã voltou à guerra e quando precisou de armas muito urgentemente, Oyá teve que voltar a avivar a forja. E lá da casa de Osaguiã, onde vivia, Oyá soprava em direcção à forja de Ògún.
E seu sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Osaguiã da de Ògún.
E seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo caminho, até chegar às chamas com furor atiçava.
E o povo se acostumou com o sopro de Oyá cruzando os ares e logo o chamou de vento.
E quanto mais a guerra era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oyá a forja de Ògún.
Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas, arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias.
O povo reconhecia o sopro destrutivo de Oyá e o povo chamava a isso tempestade.
V
AJAGUNÃ DESTRÓI PALÁCIOS PARA O POVO TRABALHAR
Ajagunã, o filho guerreiro de Oxalá, andava junto com Ogum fazendo a guerra. Onde Ogum destruía uma cidade, Ajagunã construía outra maior e mais próspera. Conquistavam para seu povo todos os campos de inhame e todas as riquezas em ouro e escravos.
O jovem Oxalá não tinha descanso, estava sempre provocando novas situações, obrigando todo mundo a trabalhar e progredir. Onde a paz resultava em calmaria e preguiça ele provocava a discórdia e o movimento, ninguém podia se acomodar na presença de Ajagunã.
Um dia, entre uma batalha e outra, Ajagunã foi à cidade de Ogum em busca de munição. Lá chegando, viu que o povo festejava. Tinham acabado a construção de um palácio novo, que ofereciam para o seu rei Ogum. A eles perguntou Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos de nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de mais se orgulhar". E tocou a parede do palácio com sua espada e o palácio ruiu.
Ajagunã voltou para a guerra e quando, de outra feita, à cidade retornou, lá estava o palácio refeito, maior, mais imponente, mais bonito. Ao povo que comemorava com festas a conclusão da nova fortaleza de Ogum, perguntou Oxalá Ajagunã: "Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos do nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de se orgulhar". E derrubou o palácio de novo. E tantas vezes isso se repetiu que os habitantes daquela cidade se transformaram num povo de grandes construtores e sua engenharia é reconhecida até os dias de hoje. E tudo porque Ajagunã não gosta de ver ninguém parado.
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