segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Oyá ( Iansã )

I

Diz uma das lendas que Oyá lamentava-se de não ter filhos, uma situação consequente da sua ignorância a respeito das suas proibições alimentares. Embora lhe fosse recomendado comer cabra, ela comia carneiro. Foi consultar um babalaô, que informou seu erro, lhe aconselhando a fazer oferendas, entra as quais deveria haver um tecido vermelho. Este pano, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as vestimentas dos Egúngún. Tendo cumprido essa obrigação, Oyá tornou-se mãe de nove crianças.

II

Oyá era líder das mulheres e treinou um macaco, e o vestiu com tiras coloridas usando para isto um ixã, conforme ela batia o ixã no chão o macaco pulava, por isso de noite quando os homens passavam por lá as mulheres, escondidas faziam o macaco aparecer, e eles fugiam assustados, humilhados eles foram consultar o babalaô que lhes disse que encarregasse Ogum da missão de vencer Oyá através de sacrifício e astúcia, que ao chegar ao lugar se vestiu com os panos coloridos e esperou as mulheres chegar escondido, inclusive Oyá, que fugiram apavoradas, diante de sua aparição inesperada.

Por isso os homens expulsaram as mulheres do culto de Egun, somente eles podem invocá-los, porém, rendem homenagem a Oyá, como criadora do culto como rainha e mãe de Egum.

III

OYÁ EGUNITÁ

Égúnità está ligada ao surgimento de Égún em um Ìtòn:

Oyá era mulher de Ògún e não podia ter filhos. Esta consultou um Babaláwo que revelou que ela só poderia ter criança de um homem que a possuísse com violência; e foi assim que Sàngó a tomou. Ela teve nove filhos dele. Os oito primeiro nasceram mudos, Oyá consulta Babaláwo que faz novos sacrifícios e o resultado foi o nascimento de Égún que não era mudo mas só podia falar com uma voz inumana.

Oyá é a rainha e mãe dos Égún, é venerada e cultuada ao lado destes.

Uma de seus oriki revela o seu nome:

A criação da roupa de Egúngún por Oyá. Roupas sob as quais, em certas circunstâncias, os mortos de uma família voltam à terra para saudar seus descendentes. Oyá é o único Òrìsà capaz de enfrentar e de dominar os Egúngún. Devido a sua alimentação inadequada, Oyá vivia triste pois não tinha filhos. Ao consultar um Babaláwo, este explicou-lhe que não podia comer carne de carneiro, e aconselhou-a a fazer oferendas, entre elas ter um tecido vermelho, e este se tornou, mais tarde, as vestimentas dos Egúngún. Após as obrigações ela teve nove crianças, o que se exprime em Yorubá pela frase: Ìyá omo mésàn -Yánsàn.

IV

Nome de Oyá: Há uma lenda que explica o nome por um jogo de palavras. Como uma cidade chamada Ipô estava ameaçada de destruição, invadida pelos guerreiros tapás. Para preservá-la foi feita uma oferenda das roupas do rei dos ipôs. Esse traje era de tal beleza que as galinhas do lugar puseram-se a cacarejar de surpresa- razão pela qual, até hoje as galinhas cacarejam, sempre que presenciam qualquer coisa estranha. Esse prestigioso traje foi rasgado (Yá) em dois para servir de almofada de apoio às cabeças de oferendas.

Apareceu então, misteriosamente, uma água que se espalhou (Yá), inundando os arredores da cidade e afogando os invasores tapás. Quando os habitantes de Ipô procuraram um nome para esse rio que chegou e se espalhou, ya, quando as roupas foram rasgadas, ya, decidiram chamá-lo Odò -Oyá.

V

Certo dia, Ogun preparava-se para abater um búfalo quando o animal, retirando a própria pele, deu surgimento à uma mulher de rara beleza. Irremediavelmente apaixonado pela mulher, Ogun tomou-a como esposa e esta mulher outra não era senão a própria Oyá. Enciumadas pelas atenções exageradas que o marido passou a dispensar à nova esposa, as outras mulheres de Ogun passaram a hostilizar Oyá que, um dia, tomada de fúria pela zombaria de suas rivais, vestiu novamente o couro de búfalo, reassumindo a forma do animal que, depois de matar todas as mulheres de Ogun, internou-se na floresta sem deixar vestígios.

VI

Segundo uma lenda, Xangô mandou sua mulher Oyá, à terra dos Baribas a fim de buscar uma poção mágica que, uma vez ingerida, lhe permitiria lançar fogo pela boca? Oyá, desobedecendo as ordens do marido, bebeu a poção ficando dotada do poder de cuspir fogo, coisa que Xangô almejava somente para ele.

VII

Quando Xangô se recolheu debaixo da terra em Kosô, Oyá, dando prova de seu amor, fez o mesmo, embora estando distante, na região de Irá? Pela fidelidade e dedicação de sua esposa, Xangô só se torna Orixá pelo poder que lhe é auferido por Oyá. Sendo Xangô o trovão, não pode existir sem que antes ocorra a manifestação de Oyá - o raio - e isto nos é demonstrado pela própria natureza.

VIII

Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá vivia na companhia de Ogun ajudando-o no seu ofício de ferreiro. Era Oyá quem, com a ajuda de um fole, atiçava as brasas na forja.

Irado por ter sido abandonado por Oyá que fujiu na companhia de Xangô, Ogun perseguiu-a e, alcançando-a, trocou com ela golpes, cortando-a em nove pedaços. Este número (9)está ligado à origem do nome de Yansã.

(TEXTOS DE AUTORIA DE LUIZ DE OGUN E OGBEBARA)

IX

Uma vez, houve uma festa no mundo dos orixás. Todos dançavam, aproveitando a festa e somente Omulu não participava, só observando pois ninguém queria dançar com ele.

Sua fama de ter o corpo deformado fazia com que os outros não se aproximassem dele. Então Oyá resolveu chamá-lo para dançar. No embalo da dança ela fez ventar e as palhas que cobriam o corpo de Omulu se abriram deixando à mostra um brilho equiparado ao sol, que ofuscava a vista dos demais.

Sabedores que Omulu não mais era aquele ser deformado que aparentava anteriormente os orixás se chegaram a ele não mais o temendo. Em forma de gratidão, Omulu deu a Oyá o poder de entrar no mundo dos mortos passando a dominá-los.

X

DE COMO OGÚN OFERECEU À SUA ESPOSA OYA SEU AKORO

Ìyá Sandra Medeiros Epega - Texto extraído do site "JORNAL TAMBOR)

Ògún, o ferreiro de Ire, gostava de sua liberdade. Morava na forja, na última rua da cidade, com sua esposa Oyá, que o ajudava. Sua casa não tinha porta ou janela e o teto era formado pelas folhas de mariwo, que impediam a chuva e o excesso de sol de incomodá-lo. Ele via os amigos passarem na rua e os saudava com um aceno. Era considerado homem importante, e fora presenteado pela comunidade com um "akoro", pequena coroa de metal que usava com muito orgulho. Pedira ao seu irmão Ode, o caçador, também chamado Osóòssi, que caçasse para ele um enorme touro selvagem que vivia por perto. Tratou o couro do animal e fez dele um enorme fole. Sua esposa Oyá manejava o fole o dia todo, enquanto ele trabalhava na forja, com o calor em seu rosto. E quem passava naquela rua ouvia a música que saia da forja: "Wuuush", fazia o fole. "Lakaiye, lakaiye", ecoavam a bigorna e o martelo. Havia muito trabalho e Ògún e Oyá não paravam nunca

Uma família resolveu certo dia realizar uma festa para o velho Pai que morrera no ano anterior. Contrataram a Sociedade Egungun da aldeia, cerimónias de propiciação foram feitas pelos Sacerdotes, e o Egungun do velho Pai passeou todo o dia pela cidade, com a família e os amigos atrás, felizes de rever seu Pai de volta ao mercado, tomando sol na praça, andando na estrada, entrando nas casas, brincando e conversando com todos. Bem mais tarde, Egungun passou pela forja, para rever seu amigo ferreiro. E, ao ouvir a música que saia de lá, pos-se a dançar na rua. Todos ao seu redor riam e gritavam de alegria, Ògún acelerava os movimentos, e o "Lakaiye, lakaiye" saia mais forte. Oyá manejava rapidamente o fole, e ouvia-se "Wuuush, wuuush, wuuush", quase sem parar. O povo aplaudia aquela música e cada vez mais juntava gente ao redor da forja. Ògún estava muito orgulhoso de sua mulher. Ela realmente era muito forte, tinha bom ritmo, sabia como transformar seu fole em um instrumento musical, e com isso encantara e dominar a Egungun, tido como difícil de lidar. A noite caiu e Egungun ainda dançava na rua.

Ògún disse a Oyá que largasse o fole e fosse dançar com Egungun. Ele ao mesmo tempo manejaria o fole e bateria o martelo. E por horas e horas, Oyá e Egungun dançaram e alegraram o povo de Ire. Ògún então tirou seu akoro da cabeça e presenteou com ele sua esposa Oyá, dizendo a ela: "Oyá, iyawo mi, akoro mi lonoon."( Oyá, minha esposa, use meu akoro na rua). E a partir de então, Oyá teve o direito de usar um akoro de metal na cabeça, direito este que conserva até hoje, na velha Mãe África e no novo mundo, sendo a única ayaba que pode fazê-lo, um vez que seu marido Ògún, Alakoro ( o dono do akoro), a autorizou a isto.

Oyá ficou conhecida então como "aquela que usa akoro na rua", "aquela que faz Egungun dançar com a música da forja", "a Mãe que dança com o filho toda a noite sem se cansar", "a poderosa Mãe que conseguiu cansar Egungun", "mulher de Orixá Ògún que recebeu dele o akoro e com ele divide os poderes sobre a forja", "a que tem akoro e o usa na rua, sem que seu dinheiro tenha sido gasto para isso".

AXÉ, AXÉ, AXÉ!

XI

ITAN TI OYÁ

Contavam os africanos, nas senzalas, lendas como esta, que de boca em boca cumpriu longa trajectória, para chegar até nós.

Na cidade de Oyó, em que Xangô reinava, resolveu ele promover uma festa, no palácio real. Em virtude disso, Oxumarê apanhava água para limpar os salões do palácio. Todos os deuses foram convidados para a festa e foram chegando, com suas vestes de gala, impressionando pela beleza e bom gosto da indumentária. Oxun, como desejasse conquistar Xangô, fez tudo no sentido de vir a ser considerada a mais bonita deusa. Mandou fazer uma coroa com lágrimas penduradas, hoje conhecida como adê e filá, e trazia na mão um leque, com um espelho, confeccionado em metal, que conhecemos pelo nome de abebé. A roupa era dourada, com umas tranças amarelas. Oxun dizia, de si para consigo: desta vez vou conquistar Xangô. Oyá, inocentemente, foi aconselhar-se com Oxun sobre como deveria apresentar-se na festa. E Oxun mandou que ela apanhasse uma chita vermelha, estampada e fizesse uma saia bem comprida, e lhe disse que antes de você ir, venha cá, que eu vou lhe arrumar. E Oyá, sabendo que Oxun era vaidosa, supôs que tudo saísse bem. Quando Oyá chegou, Oxun mandou-a vestir-se, depois do que, disse:

- Que vamos pôr na cabeça?

Correu de um lado para o outro, e decidiu: apanhou uma galinha-d’angola e colocou na cabeça de Oyá, recomendando-lhe que, ao chegar ao palácio, pusesse as mãos para o alto e gritasse: Xô xô xô ecuiu Iyansan do bae ecuiu.

Até esta frase era maliciosa, pois Oxun sabia que Xangô tinha problemas com Egungun. Logo, todos os convidados começaram a rir e a estalar os dedos, para que Oyá saísse dali.

Aconteceu, entretanto, um fato que explodiu como uma bomba, a todos surpreendendo: Xangô pôs-se de pé e convidou Oyá a sentar-se a seu lado. Os clarins, depois, soaram, anunciando a chegada de mais um convidado. Era Oxun.

Oxun, entre surpresa e chocada, constatou que seus sonhos haviam desmoronado, pois Xangô já se encontrava acompanhado.

Ouviu-se um barulho na senzala. Eram os escravos que escutavam a história preparando-se para repousar, para um novo dia de trabalho.

XII

Certa vez, Xangô foi visitar o irmão Ogum e conheceu sua mulher Iansã. Os dois se apaixonaram e Iansã largou Ogum, indo viver com Xangô. Tempos depois, com saudades, Iansã voltou para Ogum; emtão Xangô chamou seu exército e atacou o reino do irmão. Enquanto lutavam, Ogum mandou Iansã para o reino de Oxossi. Quando Xangô, vencedor, foi buscá-la, ela se casara com Oxossi. Atacou-o, e Oxossi mandou Iansã para o reino de Omolu. E a história se repetiu, até que Iansã foi mulher de todos os Orixás. Mas no final acabou voltando a viver com Xangô, e de sua união nasceram os gémeos Ibeji.

XIII

Iansã e Xangô sempre foram muito companheiros, mas Xangô, como rei, queria sempre ser o mais poderoso de todos. Iansã não se conformava com isso, pois ela é muito independente e não admite ser mandada por ninguém. Certa vez, disseram a Xangô que, num reino vizinho, havia um sacerdote que conhecia uma poção que, quando ingerida, dava o poder de lançar fogo pela boca. Como estava envolvido numa luta, Xangô mandou Iansã buscar a poção para ele. Ao voltar, ela começou a pensar que não era justo que só Xangô tivesse esse poder; então, tomou um pouquinho da poção, para que o marido não percebesse. Assim, ela ficou com o poder mágico mas, como tomou pouca poção, é dona apenas dos ventos e dos raios fracos.

XIV

Depois que casou com Oxum, que era muito dengosa, Xangô passou a negligenciar Iansã, que ficou muito enciumada. Um dia, quando Oxum foi tomar banho no rio, Iansã resolveu se vingar e fez surgir uma cortina de fogo no caminho; mas Oxum fez o rio transbordar e o fogo se apagou. Iansã ficou ainda mais irritada e atacou Oxum com a espada. Como Oxum só levava um espelho, usou-o para fazer com que o reflexo do sol cegasse a rival. Só assim Iansã parou e as duas puderam conversar.

XV

Iansã viveu por muito tempo com Xangô e foi sua melhor companheira de aventuras. Apesar de sua inconstância, ela gostava muito dele. Por isso, quando Xangô morreu, ela ficou tão desesperada que não quis mais viver. Pediu aos Orixás que aceitassem sua ida para o mundo dos mortos em companhia do marido e então se matou. Por ter ido pela própria vontade, Iansã se tornou amiga dos Eguns. É por isso que Iansã é o único Orixá que tem coragem de participar do culto dos mortos, dominando-os com seu chicote.

XVI

A ìtàn / mito, conta que, um Rei dos Nupe consultou Ifá para saber como prevenir-se contra invasões dos inimigos. Foi recomendado ao Rei que desse um pano preto para uma virgem para que ela o rasgasse. Entre as virgens o Rei escolheu sua filha. Na frente de todos a jovem rasgou o tecido negro. O ya = Ela rasgou. Jogou as duas partes do pano no chão, que transformaram-se em um rio negro, circundando e formando uma ilha que protegeu o reino. A ilha de Jebba esta no Rio Níger. Fala-se que esta ilha é o local para se retornar ( para a morte), local onde as almas dos mortos descansam. O rio Niger, um dos principais locais de culto para Oya, possui nove afluentes. Por este motivo ela recebe o Título de Àborímésòn ( Com nove cabeças). Esta divindade esta directamente relacionada com o número nove. Este é um dos motivos pelo qual recebe o Título de "Ìyá mésòn Òrun( Mãe dos Nove Além (Céus), Oyamésàn ( nove Oyas), Ìyá omo mésàn, ( mãe de nove crianças), que vem da lenda da criação da roupa de Egúngún por Oyá, Ìyámésàn (a mãe (transformada em nove), que vem da história de Ifá, da sua relação com Ògún.

XVII

Segundo a lenda, Oyá vivia feliz com Ogun, pois os dois tinham muitas coisas em comum, como o gosto pela guerra e o desejo de desbravar novos lugares. Gostavam da companhia um do outro, sentindo-se em harmonia. Com ele, que é conhecedor de todos os caminhos, Oyá aprendeu a andar pela Terra.

Gostava muito de vê-lo trabalhar, em seu oficio de ferreiro, tentando aprender como ele confeccionava suas armas e ferramentas. Oyá pedia insistentemente que lhe fizesse uma arma para guerrear.

Um dia, Ogun a surpreendeu, oferecendo-lhe uma espada curva, que era ideal para seu uso. Isso a agradou muito, tanto que, mais tarde, todo seu exército estava usando esse mesmo tipo de arma.

Mas Ogun não a levava em suas batalhas, deixando-a sozinha e entediada. Sem falar no tempo que gastava em seus afazeres de ferreiro. Oyá adorava a liberdade, mas, ao mesmo tempo, não dispensava uma boa companhia. Começou a sentir-se rejeitada por ele.

Foi nesse momento que Xangô, o grande rei, foi procurar Ogun, pois precisava de armas para seu exército. Ele era muito atraente e cuidadoso com sua aparência. Era impossível não notar sua presença.

Ogun, aceitando o pedido, começou a produzir armas para Xangô, que tinha muita urgência. Ficaria na aldeia o tempo necessário para o término do serviço.

Xangô também notou a presença de Oyá, sentindo uma grande atracção por ela. Com seu jeito de ser, aproximou-se dela para trocar conhecimentos a respeito de suas habilidades. Descobriram, nessas conversas, que possuíam muitas afinidades, inclusive que não gostavam de viver isolados, assim como Ogun.

Oyá estava muito interessada em Xangô e em tudo o que estava aprendendo com ele, mas não queria magoar Ogun, a quem respeitava muito.

Xangô propôs-lhe uma união eterna, sem monotonia, sem solidão, viajando sempre juntos por toda a Terra. Seria uma união perfeita.

Quando Ogun terminou seu trabalho, os dois já haviam partido. Ele ficou enfurecido com a traição de ambos, mesmo sabendo que sua companheira não podia ficar cativa para sempre.

Partiu atrás deles para vingar sua desonra!

Oyá estava vindo ao seu encontro, para explicar-lhe que não poderia mais ficar com ele, pois Xangô a completava, mas que iria respeitá-lo sempre como grande orixá da guerra.

Ogun estava tão enfurecido, que não ouviu o que ela dizia, e foi com grande fúria que investiu contra ela, erguendo sua espada. Oyá, em defesa própria, também o atacou. Ela foi golpeada em nove partes do seu corpo, e Ogun em sete, formando curas. Esses números ficaram muito ligados a esses orixás, assim como as curas, que foram introduzidas nos rituais africanos.

XVIII

Oyá recebeu, de Olorun, a missão de transformar e renovar a natureza através do vento, que ela sabe manipular. O vento nem sempre é tão forte, mas, algumas vezes, forma-se uma tormenta, que provoca muita destruição e mudanças por onde passa, havendo uma reciclagem natural. Normalmente, Oyá sopra a brisa, que, com sua doçura, espalha a criação, fazendo voar as sementes, que irão germinar na terra e fazer brotar uma nova vida. Além disso, esse vento manso também é responsável pelo processo de evaporação de todas as águas da terra, actuando junto aos rios e mares. Esse fenómeno é vital para a renovação dos recursos naturais, que, ao provocar as chuvas, estarão fertilizando a terra.

Apesar de dominar o vento, Oyá originou-se na água, assim como as outras iyabas, que possuem o poder da procriação e da fertilidade. Na Nigéria, existe um rio com seu nome, que assim se originou, segundo conta essa antiga lenda:

Oyá foi desafiada pelos sacerdotes de sua aldeia, que duvidaram de sua capacidade de irrigar a terra. Para eles, sua única função era a de levantar o vento para espalhar as sementes. Sentindo-se muito ultrajada, resolveu mostrar a eles do que era capaz. Na frente de todos, rasgou ao meio um pano escuro de sua indumentária. Usando seus pés, sulcou uma grande extensão de terra, onde esses panos foram jogados e, ao entrarem em contacto com o solo, transformaram-se num grande rio.

Oyá possui um grande conhecimento, adquirido através da convivência com muitos orixás, como Ogun, com quem aprendeu os caminhos; Iroko, que a ensinou a evocar o vento; Odé, com quem aprendeu a caçar; Xangô, seu eterno companheiro; Obaluaiê, com quem compartilha o reino dos Eguns; Orunmilá e Oxalá, entre outros. Vivia com eles o tempo necessário para aprender o que precisava, deixando-os em seguida, para continuar com suas andanças pelo mundo. Alguns tentaram, em vão, prendê-la, mas é impossível segurar o vento. A liberdade é muito importante para ela.

Foi com Xangô, seu marido, que passou mais tempo, pois os dois se completavam. Mas, apesar disto, ergueu-se contra ele em defesa de seu povo, fazendo com que recuasse. Nem mesmo Xangô conseguiu dobrá-la.

Guerreira poderosa, é também detentora de poderes de feitiçaria, não temendo nada nem ninguém. Nunca fugiu das batalhas, agindo sempre com uma força devastadora. Ela se transforma com muita rapidez para destruir o inimigo, voltando ao normal logo em seguida, como se nada tivesse acontecido.

Segundo a lenda, Oyá teria abandonado seus nove filhos para partir em novas empreitadas. Isso não quer dizer que ela não os amava. Ao contrário, ela precisava lutar para ter condições de criá-los e defendê-los, além disso, não podia levá-los consigo nessas guerras.

Foi Yansan quem introduziu a casa nas roças de orixás. Antes, as festas eram realizadas ao ar livre. Por isso, nas cumeeiras das casas são realizadas oferendas, tanto para ela, como para Ogun.

Com Oxalá, grande orixá fun-fun, aprendeu sobre o uso do raciocínio e o dom da paciência. Por isso ela não desiste facilmente de seus objectivos, sabendo esperar o momento certo para conquistá-los.

Oyá é puro movimento. Não pode ficar parada, para não extinguir sua energia. O vento nunca morre, ele está sempre percorrendo novos espaços.

Erroneamente, alguns babalorixás deixam as sacerdotisas de Oyá paradas no barracão, ou mesmo sentadas, enquanto os outros orixás fazem sua dança ritual. Isso vai contra tudo o que ela representa.

Ela tem o domínio e o conhecimento sobre os eguns (espíritos desencarnados). Após a morte e a limpeza do corpo, que é realizada por Omolu, Oyá encarrega-se de levá-los até os portais do orun (mundo paralelo). É Oyá, também, quem se encarrega de apagar as memórias das pessoas que irão renascer no aiye (Terra). Quando nós que renascemos na Terra ainda conseguimos lembrar de alguns factos de nossa existência passada, aos poucos, ainda na infância, nossa memória vai se apagando, até que todas as imagens desapareçam.

Oyá, em tempos remotos, era patrona (ou matrona) de uma sociedade secreta feminina, que cultuava os ancestrais (pessoas já desencarnadas pertencentes à religião), que denominamos Egungun. Foi o orixá Ogun que conseguiu acabar com a primazia das mulheres nesse culto, que passou a ser exclusivamente masculino. Mas, apesar disto, Oyá ainda é reverenciada nessa sociedade.

Oyá, segundo a mitologia, é um orixá muito forte, enfrentando a tudo e a todos por seus ideais. Não aceita a submissão ou qualquer tipo de prisão. A prostituição está ligada à Terra, e não aos orixás.

Faz parte de sua indumentária a espada curva (alfanje), o erukere, que usava para sua defesa, além de muitos braceletes e objectos de cobre.

XIX

Senhora do fogo, dos raios e da guerra, é ela quem traz as tempestades e a ventania para varrer a maldade humana da face da Terra. Iansã andava pelo mundo se aventurado, onde quer que ela soubesse haver algo impossível para se fazer, lá estava ela se propondo a obter mais uma conquista.

Filha de Afefé com Iroco e irmã gémea de Obá, Iansã é aquela que gosta de participar de tudo, é vingativa com aqueles que não sabem respeitá-la, porém não mede esforços para agradar quem a reverencia.

Protectora dos bombeiros e todas as mulheres guerreiras.

XX

Osaguiã estava em guerra, mas a guerra não acabava nunca, tão poucas eram as armas para guerrear.
Ògún fazia as armas, mas fazia lentamente.

Osaguiã pediu a seu amigo Ògún urgência, Mas o ferreiro já fazia o possível.

O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova tardava como o tempo.

Tanto reclamou Osaguiã que Oyá, esposa do ferreiro, resolveu ajudar Ògún a apressar a fabricação.

Oyá se pôs a soprar o fogo da forja de Ògún e seu sopro avivava intensamente o fogo e o fogo aumentado de calor derretia o ferro mais rapidamente.

Logo Ògún pode fazer muitas armas e com as armas Osaguiã venceu a guerra.

Osaguiã veio então agradecer Ògún. E na casa de Ògún enamorou-se de Oyá.

Um dia fugiram Osaguiã e Oyá, deixando Ògún enfurecido e sua forja fria.

Quando mais tarde Osaguiã voltou à guerra e quando precisou de armas muito urgentemente, Oyá teve que voltar a avivar a forja. E lá da casa de Osaguiã, onde vivia, Oyá soprava em direção à forja de Ògún.

E seu sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Osaguiã da de Ògún.

E seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo caminho, até chegar às chamas que com furor atiçava.

E o povo se acostumou com o sopro de Oyá cruzando os ares e logo o chamou de vento.

E quanto mais a guerra era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oyá a forja de Ògún.

Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas, arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias.

O povo reconhecia o sopro destrutivo de Oyá e o povo chamava a isso tempestade.

XXI

Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá tinha vivido com Ogun. No entanto, a aparência do deus do ferro lhe causou menos impressão que a elegância, o garbo e o brilho do deus do trovão. Ela fugiu com Xangô e Ogun, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival, mas este foi à procura de Olodumaré, o Deus Supremo, para confessar-lhe que havia ofendido Ogun. Olodumaré interveio junto ao amante traído e recomendou-les que perdoasse a afronta. Mas Ogun não resignou-se tão calmamente assim, lançou-se à perseguiçào dos fugitivos e trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel que foi então dividida em nove partes. Este número está na origem de seu nome Yansan e é uma alusão aos nove braços do delta do Niger.

XXII

Iansã ajudava Ogum na forja dos metais, soprando o fogo com o fole para avivá-lo mais e mais, e assim fabricarem mais ferramentas para trabalhar o mundo e armas para as guerras de que ambos tanto gostavam. Por seu temperamento livre e guerreiro, Iansã era uma companheira perfeita para Ogum. Diz o mito que Iansã não podia ter filhos, por isso adoptou Logun-Edé, filho abandonado por Oxum, e o criou durante algum tempo.

Um dia em que Xangô foi visitar seu irmão Ogum e encomendar-lhe armas para a guerra, Iansã (também conhecida como Oyá) apaixonou-se por Xangô, e partiu para viver com ele, deixando Logun-Edé com Ogum, que terminaria de criá-lo.

A partir de então, tornou-se uma das três esposas de Xangô e com ele reina e luta, enviando seus ventos para limpar o mundo e anunciando a sua chegada.

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