segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Lendas de Shangô

I

Xangô, quando viveu aqui na Terra, era um grande Obá (rei), muito temido e respeitado. Gostava de exibir sua bela figura, pois era um homem muito vaidoso. Conquistou, ao longo de sua vida, muitas esposas, que disputavam um lugar em seu coração.

Além disso, adorava mostrar seus poderes de feiticeiro, sempre experimentando sua força.

Em certa ocasião, Xangô estava no alto de uma montanha, testando seus poderes. Em altos brados, evocava os raios, desafiando essas forças poderosas. Sua voz era o próprio trovão, provocando um barulho ensurdecedor. Ninguém conseguia entender o que Xangô pretendia com essa atitude, ficando ali por muito tempo, impaciente por não obter resposta. De repente, o céu se iluminou e os raios começaram a aparecer. As pessoas ficaram impressionadas com a beleza daquele fenómeno, mas, ao mesmo tempo, estavam apavoradas, pois nunca tinham visto nada parecido.

Xangô, orgulhoso de seu extremo poder, ficou extasiado com o acontecimento. Não parava de proferir palavras de ordem, querendo que o espectáculo continuasse. Era realmente algo impressionante!

Foi, então, que, do alto de sua vaidade, viu a situação fugir ao seu controle. Tentou voltar atrás, implorando aos céus que os raios, que cortavam a Terra como poderosas lanças, desaparecessem. Mas era impossível - a natureza havia sido desafiada, desencadeando forças incontroláveis!

Xangô correu para sua aldeia, assustado com a destruição que provocara.

Quando chegou perto do palácio, viu o erro que cometera. A destruição era total e, para piorar a situação, todos os seus descendentes haviam morrido. Ao ver que o rei estava muito perturbado, seu próprio povo tentou consolá-lo com a promessa de reconstruir a cidade, fazendo tudo voltar ao que era antes. Xangô, sem dar ouvidos a ninguém, foi embora da cidade.

Ele não suportou tanta dor e injustiça, retirando-se para um lugar afastado, para acabar com sua vida. O rei enforcou-se numa gameleira.

Oyá, quando soube da morte de seu marido, chorou copiosamente, formando o rio Niger. Ela, que tinha conhecimento do reino dos eguns, foi até lá para trazer seu companheiro da morte, que veio envolto em panos brancos e com o rosto coberto por uma máscara de madeira, pois não podia ser reconhecido por Ikú, o Senhor da Morte. Xangô ressurge dos mortos, tornando-se um ser encantado. E foi assim que surgiu uma nova forma, ou qualidade, desse orixá, a qual chamamos Airá. Essa variação da essência de Xangô adoptou, além do vermelho, a cor branca.

II

Outra lenda nos dá conta que Xangô, com sua irresistível aparência, atraía muitas mulheres. Era muito vistoso, com seus cabelos trançados e os enfeites de cobre em seu corpo. Possuía muitas esposas, como Obá e Oxun.

Oxun era a mais bela esposa de Xangô, muito mais vaidosa do que ele, dispensando grande parte de seu tempo para enfeitar-se e, assim, poder agradar seu amado.

Xangô apreciava muito sua companhia e o esforço que fazia para fazê-lo feliz.

Obá não tinha o mesmo tratamento, por isso, sentia-se rejeitada. Ela era muito possessiva em seus relacionamentos e não suportava mais essa situação.

Oxun havia percebido que Obá a invejava e queria roubar-lhe o companheiro. Muito faceira e com ares de superioridade, começou a contar vantagens para a rival, que fingia não se importar. Dizia que Xangô adorava um certo quitute preparado com um ingrediente muito especial: um pedaço de orelha.

Obá acreditou nela, pois, naquele momento, Oxun estava com um torço amarrado na cabeça. Embora parecesse estranho, devia ser tudo verdade, pois Xangô estava enfeitiçado por Oxun.

Juntando muita coragem e determinação, Obá cortou fora sua orelha para preparar o tal prato.

Xangô chegou bem na hora e viu o sangue que escorria da cabeça de Obá. Preocupado, quis saber o que havia acontecido com ela. Quando soube do acontecido, ficou enfurecido com Obá, por pensar em oferecer-lhe uma comida tão esquisita!

Percebendo a mentira de Oxun, saiu furiosa à sua procura para ajustarem contas.

Xangô separou as duas rivais, que se transformaram em rios. Obá foi embora desse reinado e nunca mais voltou.

III

Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: "- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre."

IV

Xangô vivia em seu reino com suas 3 mulheres ( Iansã, Oxum e Obá ), muitos servos, exércitos, gado e riquezas. Certo dia, ele subiu num morro próximo, junto com Iansã; ele queria testar um feitiço que inventara para lançar raios muito fortes. Quando recitou a fórmula, ouviu-se uma série de estrondos e muitos raios riscaram o céu. Quando tudo se acalmou, Xangô olhou em direção à cidade e viu que seu palácio fora atingido. Ele e Iansã correram para lá e viram que não havia sobrado nada nem ninguém. Desesperado, Xangô bateu com os pés no chão e afundou pela terra; Iansã o imitou. Oxum e Obá viraram rios e os 4 se tornaram Orixás.

V

" Entre os clientes de Ogun, o guerreiro estava Xango, que gostava de ser elegante a ponto de entrançar os seus cabelos como os de uma mulher.

Havia feito buracos nos lóbulos de suas orelhas, onde usava sempre argolas, usava colares de contas, usava braceletes, que elegância!!!

Este homem era igualmente poderoso pelos seus talismãs. Era guerreiro de profissão. Não fazia prisioneiros em suas batalhas, matava a todos os seus inimigos.

Por essa razão Xango é saudado :

Rei de Kosso, com um grito de independência.

Outras saudações que seus fiéis lhe dirigem têm certa graça que mostram sua forte personalidade.

"Ele ri quando vai a casa de Oxum

ele está bastante tempo em casa de Oia

ele usa um grande pano vermelho

oh­ o elefante caminha com dignidade

meu senhor que cozinha com a respiração

como nada escapa de seu nariz

meu senhor que mata seis pessoas com uma pedra de raio

se és mentiroso tens medo do fogo de Xango.

É o irmão mais jovem , não somente de Dada-Ajaka, como também de Obaluaie. Entretanto ao que parece , não são vínculos de parentesco que permitem explicar a ligação entre o deus do raio e o das doenças contagiosas, mas sim prováveis origens comuns em Tapa. Obaluaiae seria mais antigo que Xango e por deferência ao mais velho em certas cidades como Sakete e Ifanhim são feitas sempre oferendas a Obaluaie na véspera da comemoração das cerimónias de Xango.

VI

Shangô, queria ser muito poderoso e respeitado e para isto consultou Ifá. Na consulta surgiu Okanran Meji, que determinou um sacrifício, que iria garantir ao orixás, tudo que desejava.

Feito o ebó, Todas as vezes que Shangô abria a boca para falar, sua voz saia possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam suas palavras.

Diante do poder de seu marido Oya resolveu consultar o Oráculo com a finalidade de se tornar tão poderoso quanto ele. Na consulta surgiu Okanran Meji, que lhe determinou o mesmo ebó.

Quando Shangô descobriu que sua mulher havia adquirido um poder igual ao seu, ficou furioso e começou a maldizer Ifá por haver proporcionado tamanho poder a uma simples mulher.

Humilhada, Oya recorreu a Olorun para que desse um paradeiro ao impasse. Olorun determinou então que a partir daquele dia, a vós de Shangô soaria como o trovão e que provocaria incêndios onde ele bem intendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que Oya, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (os raios) provocassem o surgimento do som das palavras de Shangô (o trovão), assim como o fogo que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projectam sobre a terra).

E por este motivo até hoje, não se pode ouvir o ribombar do trovão sem que antes, um raio ilumine o céu.

VII

Houve uma época em que Aganju reinava sobre uma grande extensão de terra e Shangô era seu primeiro ministro, submetido então às suas ordens.

Formaram então, uma nação muito poderosa, que havia dominado por força de seus exércitos, a diversos povos, que tinham que pagar periodicamente tributos de guerra, em forma de todos os tipos de alimentos.

Aganju, possuía muitos e fiéis amigos e Shangô, mulherengo como ninguém, tinha um grande número de esposas e concubinas.

Periodicamente, os povos dominados por Aganjú enchiam barcos com alimentos e enviavam-nos, rio a baixo, em direcção a capital do reino.

Shangô, reuniu um grupo de homens chefiados por um de sua inteira confiança, encarregando-os de interceptar os barcos de alimentos destinados a Aganjú, o que acabou por criar um problema muito sério.

Interrompido o abastecimento de géneros alimentícios na capital, a fome passou a habitar o palácio real, onde viviam apenas nobres e guerreiros, que nada produziam e que serviam apenas de sustentáculo ao sistema estabelecido.

Preocupado com a situação, Aganjú enviou alguns guerreiros de sua confiança para, de forma secreta, verificarem o que estava acontecendo. Os homens foram se espalhando, escondidos por toda a margem do rio, em determinado momento, viram uma grande embarcação carregada de quiabos e muitos sacos de farinha, aproximando-se ao sabor da corrente.

Repentinamente, os homens de Shangô, chefiados por um tal Ogan, aproximaram-se da margem do rio e, esperando que a embarcação se aproximasse, lançaram cordas de forma que o curso do barco fosse interrompido. Imediatamente o cargueiro foi puxado até a margem e ali, depois de descarregado, foi totalmente destruído para não deixar vestígios do acontecido.

Perpetrado o roubo, os guerreiros de Aganju lançaram-se sobre os ladrões que lograram fugir com a excepção de Ogan que foi capturado e conduzido à presença do rei.

Apresentado ao povo como responsável pelo desaparecimento da comida, Ogan foi condenado a tocar Ilú, dia e noite, para que as pessoas dançassem enquanto cantavam:

Lu manlo, emanlo,

Lu manlo, emanlo!

Mojee mofile

Eni oma mofile,

Mojee mofile!

Tradução: Baila e faz bailar,

Baila e faz bailar!

Em pagamento pela comida

Que foi consumida

E que nos pertencia!

Foi a partir de então que Shangô tornou-se rei em suas terras, libertando-se do poder de Aganjú que, para poder receber os alimentos a que têm direito, deve usar dos atributos de Shangô, uma vez que tudo o que lhe é endereçado, passa primeiro diante deste Orishá.

VIII

Odùdùa, um guerreiro que vinha de uma cidade do Leste, invadiu com seu exército a capital do povo chamado Ifé. Esta cidade depois se chamou Ilê-Ifé, quando Odùdùa se tornou seu governante.

Odùdùa tinha um filho chamado Acambi e Acambi teve sete filhos e seus filhos ou netos foram reis de cidades importantes. A primeira filha deu-lhe um neto que governou Egbá, a segunda foi mãe do Alaketo, o rei de Keto, o terceiro filho foi coroado rei da cidade de Benim, o quarto foi Orungã, que veio a ser rei de Ilê-Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes, o sexto, rei de Popôs, e o sétimo foi Oraniã, que foi rei de Oyó. Esses príncipes eram vassalos do rei de Ilê-Ifé, que então se transformou no centro de um grande império, cujo nome era Oyó. Odùdùa era o grande rei de Oyó. Ele unificou as mais importantes cidades daquela região, mais tarde conhecida como sendo a terra dos yorubás.

Em cada cidade ele pôs no trono um parente seu. Ele foi o grande soberano dos reinos yorubás. Ele foi chamado o primeiro Alafim, o rei de Oyó.

Quando Odùdùa morreu, os príncipes fizeram a partilha dos bens do rei entre si e Acambi ficou como regente do império até sua morte, nunca tendo sido, contudo, coroado rei do império. Nunca lhe foi atribuído o título de Alafim.

Com a morte de Acambi, foi feito rei Oraniã, o mais jovem dos príncipes do império, que tinha se tornado um homem rico e poderoso. A ancestral Ilé-Ifé era a capital dessa vasta região conhecida como Oyó. O Alafim Oraniã foi um grande conquistador e solidificou o poderio de Oyó.

Um dia Oraniã levou seus exércitos para combater o povo que habitava uma região a leste de seu império. Era uma guerra muito difícil, mas, antes de ganhar a guerra, o oráculo o aconselhou a estacionar com os seus homens, pois ali ele haveria de muito prosperar. Assim foi feito e aquele acampamento a leste de Ilé-Ifé tornou-se uma cidade poderosa. Essa próspera povoação foi chamada cidade de Oyó e veio a ser a grande capital do império fundado por Odùdùa.

Com a morte de Oraniã, seu filho Ajacá foi coroado terceiro Alafim de Oyó. Ajacá, que tinha o apelido de Dadá por causa de seu cabelo encaracolado, era um homem pacato e sensível, com pouca habilidade e nenhum tino para governar.

Dadá-Ajacá tinha um irmão que fora criado na terra dos nupes, um povo vizinho dos yorubás, filho de Oraniã com a princesa Iamassê, embora haja quem diga que a mãe dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupes, também chamados tapas. Esse filho de Oraniã era Sàngó, grande guerreiro, que fundara uma pequena cidade chamada Cossô, nas cercanias da capital Oyó.

Sàngó, que era o rei de Cossô, uma cidade tributária de Oyó, um dia destronou o irmão Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani. Sàngó foi assim coroado o quarto Alafim de Oyó, governando o império de Odùdùa e Oraniã por sete anos.

Quando Sàngó morreu, e dizem que foi obrigado a se enforcar num momento de crise de seu império, seus ministros procuraram seu corpo e não encontraram. Compreenderam então que ele tinha entrado para o Orum e instituíram seu culto. Sàngó havia se transformado em òrìsà.

IX

Mais Uma História de XANGÔ e o QUIABO

Existe uma qualidade de Xangô, chamada Baru, que não pode comer quiabo. Ele era muito brigão. Só vivia em atrito com os outros. Ele é que era o valente. Quem resolvia tudo era ele . Xangô Baru era muito destemido, mas, quando ele comia quiabo, que ele gostava muito, lhe dava muita sonolência. Dormia o tempo todo! E pôr isso perdeu muitas contendas, pois quando ele acordava, já tudo tinha acabado.

Então, resolveu consultar um oluô, que lhe disse:

- Se é assim, deixa de comer quiabo.

- Eu deixar de comer o que eu mais gosto? – respondeu Xangô Baru.

- Então, fique por sua conta. Não me incomode mais! Será que a gula vai vencê- lo? - perguntou o oluô. Xangô baru foi para casa e pensou :

- Eu não vou me deixar vencer pela boca. Vou voltar lá e perguntar a ele o que faço, pois o quiabo é meu prato predileto.

E saiu no caminho da casa do oluô, que já sabia que ele voltaria. Lá chegando, disse:

- Aqui estou. Me diz o que eu vou comer no lugar do quiabo.

- Aqui neste mocó tem o que você tem que comer. São estas folhas. Você temperando como quiabo, mata sua fome – lhe mostrou o oluô.

- Folha?! – perguntou Xangô Baru.

- Sim – respondeu o oluô – Tem duas qualidades, uma se chama oyó e a outra, sanã. São tão boas e gostosas quanto o quiabo.

Xangô Baru foi para casa e preparou o refogado, e fez um angu de farinha e comeu. Gostou tanto, e se sentiu tão bem e tão fortalecido, e não teve mais aquele sono profundo. Aliás, ele se sentiu bem mais jovem e com mais força. E não ficou com a sonolência que o quiabo lhe dava. Aí ele disse:

- A partir de hoje, eu não como mais quiabo.

Daí a sua quizila com o mesmo. "Todo caso é um caso. "Esse caso me foi contado pelas minhas mais velhas; assim, agora quem quiser dar quiabo a Baru, que dê!

Bibliografia.
Livro: Caroço de Dendê.

Autora: Mãe Beata de Yemonjá.

Editora: Pallas.

Editado em 1997

X

Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro,

cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda.

Homem valente à direita,

homem valente à esquerda.

Homem valente em casa,

homem valente na guerra.

Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubas.

Durante suas guerras, ele passava sempre por Empé, em território Tapá, também chamado Nupê.

Elempê, o rei do lugar, fez aliança com Oranian e deu-lhe, também, sua filha em casamento.

Desta união nasce este filho vigoroso e forte, chamado Xangô

Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca.

Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamação.

Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga.

Comandando os pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores.

Crescido seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas.

Xangô tinha um oxé – machado de duas lâminas; tinha também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo. Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé: aquilo que ele engolia para cuspir fogo a amedrontar, assim, seus adversários, e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos.

O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô.

Aí chegando, as pessoas assustadas disseram:

"Quem é este perigoso personagem?"

"Ele é brutal e petulante demais!"

"Não queremos entre nós!"

"Ele vai atormentar-nos!"

"Ele vai maltratar-nos!"

"Ele vai espalhar desordem na cidade!"

"Não o queremos entre nós!"

Mas Xangô os ameaçou com seu oxé. Sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio.

Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando:

Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossô!

"Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"

Quando Xangô tornou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra.

Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com alma e dignidade.

Ele realizava trabalhos úteis à comunidade.

Mas esta vida calma não convinha a Xangô. Ele adorava as viagens e as aventuras.

Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum.

Ogum o terrível guerreiro,

Ogum o poderoso ferreiro.

Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ela ajudava Ogum em suas atividades.

Toda manhã, Iansã o acompanhava à forja e o ajudava, carregando suas ferramentas. Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo. O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku. E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng....

Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã, também, espiava furtivamente Xangô.

Xangô era vaidoso e cuidava muito de sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher.

Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas.

Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas.

Que elegância!

Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher.

Xangô voltou por pouco tempo a Kossô, seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó,

o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian.

O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais valho que ele, chamado Dada-Ajaká – um rei pacífico, que amava a beleza e a arte.

Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô. E conservou, assim, seu título de Obá Kossô – "Rei de Kossô".

Xangô guerreava para seu irmão Dadá.

O reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo.

Ele se estendeu para o Norte.

Ele se estendeu para o Sul.

Ele se estendeu para o Leste e

Ele se estendeu para o Oeste.

Xangô, então, destronou seu irmão Dada-Ajaká e fez-se rei em seu lugar.

Kabiyei Sango Alafin Alayeluwa!

"Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!"

Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze.

Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre suas mulheres e seus filhos.

Iansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa. Obá, sua terceira, mulher, era robusta e trabalhadora.

Sete anos mais tarde, foi o fim de seu reino: Xangô, acompanhado de Iansã, subira à colina Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze.

Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios.

Baoummm!!!
A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio!

Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas.

Xangô, desesperado, seguido apenas por Iansã, voltou para Tapá.

Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza. Iansã, solitária, fez o mesmo em Irá. Oxum e Obá transformaram-se em rios

Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyei lê!

Iansã, orixá da tempestade, Êpa Heyi Oiá!

Oxum, orixá das águas doces, OrêYeyê ô!

Bibliografia:
Livro: Lendas Africanas dos Orixás
Autor: Pierre Fatumbi Verger
Ilustração: Caribé
Tradução: Cida Nóbrega
Editora: Corrupio

XI

Xangô submete-se a Obatalá

Xangô, filho de Obatalá, era um jovem rebelde e de vez em quando saía pelo mundo deitando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaças. Seu pai, Obatalá, era informado de seus actos, recebendo queixas de todas as partes da terra. Obatalá alegava que seu filho era como era por não haver sido criado junto dele, mas que, algum dia, conseguiria dominá-lo.

Certo dia, estando Xangô na casa de Obá, deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta de casa. Obatalá e Oduduá passaram por lá, viram o animal de Xangô, e o levaram com eles. Ao sair, Xangô percebeu o roubo e enfurecido, saiu em busca do animal, perf«guntando aqui e acolá. Chegando a uma vila próxima dali, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo seu animal, o que deixou Xangô ainda mais colérico. Xangô alcançou os dois velhos e ao tentar agredi-los percebeu que eram Obatalá e Oduduá. Obatalá levantou seu apoxorô (cajado) e ordenou: "Sangô kunlé, foribalé". Xangô desarmado arirou-se ao chão em total submissão a Obatalá.

Xangô tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou e misturou a elas suas contas brancas dizendo: "Isto é para que toda a terra saiba que você é meu filho".

Daquele dia em diante Xangô submeteu-se às ordens do velho rei.

XII

Como Xangô perdeu o tabuleiro de Ifá

Xangô gostava muito de dançar e fazia-o muito bem. Onde quer que chegasse fazia excelentes demonstrações com a dança e o tambor. Um dia estando na terra de Mina, convidaram-no a dançar na terra Tákua. Não podendo resistir ao chamado dos tambores, arranjou-se e pediu à palma que cuidasse do seu tabuleiro (nessa época era Xangô quem adivinhava com o tabuleiro de Ifá. Enquanto Xangô desfrutava do baile, Orula aproveitou uma altura em que a palma se encontrava a dormir profundamente e levou o tabuleiro para coroar-se com ele.

Quando Xangô regressava da festa, encontrou-se com Ossayn e este mostrou-lhe que a palma estava a dormir e que já não tinha o tabuleiro. Alafi compreendeu o que havia sucedido e lançou um raio acertando na palma adormecida fazendo-a em pedaços.

É por isso que o raio sempre acerta na palma, esse é o castigo que Xangô lhe dá porque não defendeu o seu tabuleiro, nem impediu que Orula o levasse.

XIII

Ka woo Ka byi si (Podemos olhar vossa real Majestade?)

Xangô não gosta da morte , apesar disso sua maneira de vestir se assemelha muito a maneira de vestir de Egum,porque ambos são originários da mesma região da África.Xangô e Egum nunca se encontraram , pois existe uma grande rixa entre os dois . Estava sendo preparada uma grande festa para Xangô que estav fora participando de uma de suas batalhas.Sabendo disso e se aproveitando da semelhança que existia entre ele e Xangô, Egum veio na frente e ,enganando à todos com suas vestes, comeu tudo que tinha sido preparado para Xangô,fazendo-se passar por ele.Quando Xangô chegou não havia mais nada para comer e contaram que alguém parecido com ele havia cometido o ultraje . Xangô descobriu quem era e criou-se assim a grande rixa entre Xangô e Egum .

XIV

Porque é que Xangô sempre protege Ogbe Obara

Ogbe Obara usou o oráculo para Xangô e ajudou-o quando este era muito pobre no Orun. O mesmo Ogbe Obara era muito pobre mas ao terminar de fazer ol ebó convidou Xangô a ir à sua casa na Terra, mas este não aceitou por não estar apresentável, pelo que Ogbe Obara regressou sozinho.

Xangô viu no Orun que o mundo dos humanos estava sujo e era mau pelo que jurou eliminar todos os malfeitores da face da Terra.

Quando Xangô se preparava para começar a batalha a primeira coisa que aconteceu foi que um tornado começou a levantar os tectos das casas na Terra. Nesse momento Ogbe Obara não estava na sua casa porque andava noutro lugar adivinhando para os necessitados mas a sua mulher estava e começou a cantar implorando clemência ao Orun quando viu que as árvores e as casas caíam com o passar dos ventos.

A canção indicou a Xangô que nesse lugar se encontrava a casa do seu benfeitor pelo que o orixá abandonou o seu plano de destruição e voltou ao Orun.

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